Exposição coletiva "Distensões do Real", Espaço Cultural Feevale, Novo Hamburgo, 2012

17/10/2012 00:58

 

A coletiva fotográfica Distensões do Real, com curadoria de Clóvis Martins Costa, inaugurou o Espaço Cultural da Universidade Feevale, em Novo Hamburgo. 

 

Ao fazer o convite, o curador delineou sua proposta: A exposição terá como escopo ... a percepção da fotografia enquanto dispositivo para o alargamento/distensão da realidade, tornando visível "alguma coisa do mundo, alguma coisa que não é, necessariamente, da ordem do visível" (ROUILLÈ, 2009). Partindo dos trabalhos apresentados, poderemos verificar a relação das poéticas de cada um no que toca a esta qualidade da imagem fotográfica.

 

Participei com um trabalho da série Poéticas da Tecnologia: Storyboards. Está prevista a publicação de um catálogo até o final da mostra. 

 

 

Poéticas da Tecnologia é uma série de trabalhos com fotografia que venho desenvolvendo de maneira intermitente desde 2010, que se divide em um grupo de subséries, cada qual com uma proposta específica. Poéticas explora diferentes efeitos plásticos e suas possibilidades expressivas obtidos com recursos fotográficos automatizados ou semi-automáticos, e com o acaso. Em Storyboards, o subgrupo que trabalho atualmente, o motivo principal são avenidas e cruzamentos com intenso tráfico de veículos.

 

A imagem fotográfica é obtida usando o ajuste “fotografia panorâmica” de uma câmera Sony DSC H-55, um modelo amador sem qualquer sofisticação. A imagem gerada tem uma grande largura mas pequena altura, predominando amplamente o sentido horizontal. Esse formato panorâmico por si transmite ao observador uma sensação de amplitude, de ambiente aberto, como é o desses locais em foco. Por outro lado, a fotografia com este ajuste pressupõe um objeto imóvel, como uma paisagem, por exemplo, para que se possa conseguir uma imagem contínua e sem falhas. Contudo, a captura de objetos móveis com este ajuste adquire interesse pela fragmentação e outras anomalias que provoca na imagem, incluindo distorções e gerando maior granulação, oferecendo resultados plásticos que, pela regulagem automática da câmera, têm muito do acaso e imprevisto, mas também podem ser manipulados deliberadamente em alguma medida, através da velocidade com que se move a câmera, regulando previamente contrastes, prevendo, pela prática da observação, o comportamento dos objetos em foco e de seu movimento, e mesmo usando da intuição e do improviso na captura. Pode-se inclusive introduzir um novo elemento de dinamismo através da captura com o fotógrafo em movimento. Basta estar dentro de um automóvel. O resultado é diferente do outro processo, antes descrito. A imagem resulta com uma fragmentação mais nervosa, quase ondulante.

 

O recurso tecnológico escolhido se revela útil como maneira de fixar e transmitir a atmosfera de agitação que caracteriza esses locais, com múltiplos objetos em movimento por toda parte - o formigueiro de pessoas e automóveis em alta velocidade – que se embaralham e entram e saem de nosso campo visual em questão de segundos, deixando apenas um rastro fugaz em nossas retinas e memórias. Registrando uma dinâmica fragmentada, a imagem final remete às histórias em quadrinhos, aos roteiros de cinema e vídeo, com seu desenrolar dramático tipicamente congelado em quadros separados. Ao mesmo tempo, o cenário de fundo, a paisagem urbana imóvel, é capturada quase sem quebras de continuidade, fazendo um imprevisto contraste com os outros elementos da composição e reintegrando visualmente a unidade do tempo e do movimento.

 

Ricardo André Frantz, 2012

 

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